Habemus Papam
Dom Demétrio Valentini
Chega ao fim a grande expectativa. Na pessoa do Cardeal Jorge Mario Bergoglio temos o novo Papa, que escolheu o nome de Francisco.
Sua eleição pegou todo mundo de surpresa. Por mais que as especulações tivessem desenhado os diversos cenários para o desfecho do conclave, ninguém apostava no Cardeal Bergoglio. Quando muito, alguns ponderavam que ele poderia, isto sim, influenciar eleitores, levando-os a se inclinarem para um lado ou para outro. Mas ninguém imaginava que os votos convergissem, tão rápido, para ele mesmo.
O conclave teve a mesma duração do anterior, quando foi eleito o Cardeal Ratzinger, depois de cinco votações. O mesmo número de agora. Mas com uma diferença muito significativa: da outra vez, o Cardeal Ratzinger era franco favorito. Desde vez, a proeza de Bergoglio foi muito mais expressiva. E denota um apoio massivo e rápido, que os cardeais lhe deram.
Na busca de entender o que aconteceu, e de projetar o que vai acontecer, ficamos atentos a todos os sintomas, alguns mais, outros menos evidentes.
O nome, por exemplo, que ele assumiu, revela uma clara identificação com um leque de valores evangélicos e eclesiais testemunhados por São Francisco de Assis. Entre os quais está, sem dúvida, a simplicidade de vida, que caracteriza a personalidade do novo Papa, que ele vivencia não só de maneira espontânea, mas também assumida, como ele fez questão de enfatizar com a escolha deste nome.
Outra insistência, em suas breves palavras de apresentação como Papa diante da multidão na Praça São Pedro, foi a maneira como ele se referiu ao Papa Bento XVI, chamando-o de “bispo emérito de Roma”. E depois, ao se referir à função do conclave, afirmou que o conclave tinha a missão de encontrar um “bispo para a Roma”.
Esta insistência em vincular a missão do Papa com sua condição de “Bispo de Roma” é muito significativa. Ela aponta para uma prática da “colegialidade episcopal”, em que cada bispo está vinculado a uma “Igreja Particular”, sendo que a Igreja no mundo resulta da comunhão de todas as Igrejas Locais, de onde emerge a importância especial da Igreja de Roma, como símbolo da comunhão fraterna entre todas as Igrejas.
Em todo o caso, esta insistência revela um claro posicionamento eclesial, que sinaliza para a retomada da renovação empreendida pelo Concílio Vaticano II.
Outra observação pode ser feita, conferindo sua idade, e o fato já ter sido candidato a Papa no outro conclave. Os cardeais estão ainda apostando em membros da “velha guarda”. Os novos, talvez mais vistosos, e mais capacitados, não estão ainda recebendo a incumbência.
Isto parece sugerir que existe uma conta a pagar, que vem da geração anterior, e que podemos identificar com o desafio de retomar as generosas propostas de reforma eclesial, sugeridas pelo Concílio.
Tudo indica, portanto, que a eleição do Papa Francisco avaliza um ambiente mais aberto e mais receptivo à retomada do Concílio, nas formas que esta iniciativa poderá comportar.
Outra atitude surpreendente do Papa Francisco foi na hora de dar a famosa bênção “Urbi et Orbi”, isto é, “para a cidade e para o mundo”: antes de ele dar esta bênção ao povo, ele mesmo pediu que o povo invocasse sobre o Papa a bênção de Deus!
Não deixa de ser uma visão de Igreja impregnada dos ensinamentos do Concílio, que nos falam da Igreja como “Povo de Deus”, onde todos são corresponsáveis pela missão.
Em todo o caso, temos pela primeira vez um Papa da América Latina, pela primeira vez um papa jesuíta fica, e a primeira vez que um papa escolhe o nome de Francisco.
Pelo visto, temos mais novidades pela frente. Se ele pediu que o povo o abençoasse, podemos dizer ao Papa Francisco: vá em frente, e conte com a gente!